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Plantas do poder: Ayuahuasca: chicote da alma que cura os males físicos

Culturas americanas, do Norte, Centro e Sul, vêm utilizando plantas de poder em técnicas curativas para os mais variados distúrbios orgânicos e emocionais. Em rituais praticados por pajés, xãmas ou curadores, sua utilização amplia tanto a percepção de si quanto a percepção do meio ambiente, ao mesmo tempo em que o processamento consciente de informações se intensifica e a memória é ativada, fornecendo à consciência dados que nela residiam mas estavam apagados ou menos disponíveis para acesso imediato.

Segundo as tradições populares, resgatadas e estudadas ao longo dos Séculos XIX e XX, tais plantas facilitam o processo de harmonização interna e purificação geral do organismo. A ayahuasca, conhecida há séculos em toda a Amazônia Ocidental, mais do que uma planta, é o resultado da cocção das folhas de uma rubiácea, a "rainha" (Psychotria viridis) com pedaços de um cipó, o "jagube" (Banisteriopsis caapi), obtendo-se um chá de cor marrom e sabor amargo-azedo. Enquanto a "Psychotria viridis" contém nas folhas o alcalóide DMT (dimetiltriptamina), com fórmula química idêntica a de um neurotransmissor (a serotonina ), o Banisteriopsis Caapi carrega no caule um princípio ativo (tetrahidroamina) que inibe a metabolização do DMT no trato digestivo superior (esôfago e estômago).
Assim, cerca de 30 minutos após sua ingestão, quando a bebida já atingiu o intestino delgado, seu principal alcalóide psicoativo,o DMT, é absorvido pela corrente sanguínea e segue até o sistema nervoso central, onde instala a hiperativação das funções cerebrais perceptivas, cognitivas e mnemônicas, levando todo o cérebro a operar em uma taxa muito maior do que a que se verifica costumeiramente, desenvolvendo as funções de percepção, conscientização e memória - que representam a base central do psiquismo humano.

A ayahuasca é prejudicial em algum aspecto?

Estudos realizados em meados da década de 80 pelo CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes), indicam que a ingestão continuada de ayahuasca não gera dependência alguma, não compromete o comportamento social, familiar ou produtivo do indivíduo, não prejudica o seu desempenho mental ou orgânico e nem induz ao consumo de drogas; ao contrário, inúmeros são os casos de alcóolatras ou drogados que abandonaram seu vício ao realizar trabalhos regulares com ayahuasca, quando passaram a lidar mais maduramente com os seus problemas pessoais e a buscar soluções produtivas para os desafios do dia-a-dia (além de trabalhar, de forma organizada, os estados alterados de consciência, buscados compulsivamente através das drogas).

As eventuais reações de vômito ou diarréia, que por vezes acometem os participantes do trabalho de cura, são indicativas do processo de limpeza e purificação que está se dando; estas reações passam imediatamente, facilitando o processo interno de autoconhecimento.

Os trabalhos não está atrelado a nenhum credo em específico e podem ser utilizados por pessoas de qualquer credo, pois os valores centrais, espirituais e de vida que são expressos, correspondem aos defendidos por todas as doutrinas religiosas da Humanidade, até mesmo por pensadores humanistas não religiosos: amor ao próximo, caridade, compreensão, trabalho, honestidade, respeito humano, respeito à individualidade, enfim, valores humanos universais, encontrados em culturas de todas as épocas.


Psiquismo e Espiritualidade

Outro aspecto a discutir é o encontro tão frequente entre os fenômenos do psiquismo mais profundo e as vivências humanas. Com o passar dos anos e o avanço das pesquisas psicológicas, cada vez mais a ciência tem se interessado pelo que sempre foi chamado de "espiritual" e atribuído à existência de seres do "astral" ou de outras dimensões da realidade.
Já não se pode mais, assim, afirmar taxativamente que tais vivências humanas são alucinações ou, de outro lado, "prova viva da existência de tais seres e dimensões"; mais prudente seria adotar a postura de viver a experiência e depois, somente depois, atribuir-lhe este ou aquele valor.
De qualquer maneira, seja uma coisa ou outra, o contato consciente com tal possibilidade de vivência aumenta em muito a capacidade do ser humano se harmonizar consigo mesmo e com o mundo à sua volta, retornando gradativamente a um estado de equilíbrio que, em alguma medida, e por inúmeras razões, já se comprometeu. Tal justaposição entre psiquismo e espiritualidade sempre fez, contudo, com que as práticas xamânicas de cura se revestissem de alguma ritualística religiosa, fosse ela composta com símbolos indígenas, africanos, orientais ou mesmo cristãos.


Xamanismo e Cura

As práticas xamânicas de cura, também chamadas de pajelança, visam propiciar aos participantes um contato aprofundado consigo mesmos e com o mundo que os rodeia. Dentro das técnicas terapêuticas transpessoais, este recurso milenar foi resgatado e vem sendo continuadamente aperfeiçoado em centros de pesquisa psicológica e em consultórios terapêuticos de todo o mundo. Graças à utilização metodizada destes recursos xamânicos, as técnicas terapêuticas que visam à alteração deliberada dos estados de consciência, com o uso de plantas de poder, oferecem recursos extremamente preciosos à identificação de componentes vitais (emocionais e orgânicos) que necessitam modificação.
Em trabalhos de cura, busca-se alterar o estado de consciência, permitindo ao indivíduo um mergulho mais profundo em seu próprio inconsciente, a incorporação ao ego de todas as percepções e compreensões assim obtidas e, graças a isto, facilitar o reequilíbrio corporal, mental, emocional e espiritual, possibilitando ao indivíduo participar de seu próprio destino, de maneira produtiva, harmoniosa e genuinamente feliz.


*Roman Ketchua, índio nascido nas montanhas andinas, artista plástico, músico e palestrante, veio ao Brasil muito jovem para fazer apresentações de sua arte. Entrou em contato com os índios brasileiros com quem trocou experiências e conhecimento. Ministra palestras sobre as plantas de poder, povos andinos e tradições xamânicas.

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